A Autoridade
Uma das mais graves crises da actualidade é a crise de autoridade.
A nossa sociedade moderna é extraordinariamente permissiva – é proibido proibir.
De facto, a uma sociedade autoritária sucedeu-se uma sociedade permissiva e é muito difícil saber qual delas é a mais perniciosa para a educação dos nossos filhos. A esse nível, considero que a sociedade permissiva ultrapassa largamente a sociedade autoritária.
A crise de autoridade não permite o harmónico desenvolvimento do ser humano, sobretudo porque nao lhe dá o real sentido da vida, nomeadamente, no que se refere a deveres e direitos que cada um tem numa sociedade organizada e que devem ser respeitados, aceitando as regras (as leis que a regem).
A crise de autoridade atingiu também (sobretudo) o Lar onde os Pais deixaram de a ter, demitindo-se desta importante função educativa: umas vezes por falta de preparação, outras por desinteresse ou sabe-se lá porquê.
A crise de autoridade no Lar projeta-se para o exterior e os filhos são preparados para não aceitar a autoridade do Estado e da sociedade. Não permite também educar no conceito fundamental de que sobretudo numa sociedade democrática é indispensável que exista Lei e que esta seja voluntariamente cumprida.
Como se exerce a verdadeira autoridade?
Não se pode confundir autoridade com autoritarismo já que este é, pelo menos, abuso de autoridade (“posso, quero e mando”). Não pode pensar-se hoje que para ser-se obedecido basta afirmar “porque eu quero que seja assim” ou, ainda, “porque cá em casa quem manda sou eu”. Todos nós, mas sobretudo as crianças, estamos sujeitos a constantes impulsos instintivos que devem ser convenientemente moderados pelo uso de autoridade. Antes de tudo o mais, mandar tem de ser provocar no outro o despertar para a responsabilidade.
A autoridade é uma força que tem de assentar na presença, no prestígio, na firmeza (ordem dada é ordem para cumprir; mais vale não dar uma ordem do que deixar que a não cumpram) e no amor. De facto deve-se ser firme com muito amor e porque se tem muito amor. Por sua vez, o prestígio assenta na serenidade, na disciplina, na clarividéncia, na maturidade (ser adulto), tudo isto profusamente inundado de muito amor.
Os Pais devem possuir estes atributos em elevado grau para poderem ser, no Lar e fora dele, a autoridade de que os filhos precisam. A autoridade tem de levar a aceitar as regras que devem estabelecer-se e deve, depois, obrigar ao seu voluntário cumprimento, já que foram aceites por ambos os lados.
Nesta breve reflexão resta acrescentar, por último, que autoridade é serviço e que é necessário que os filhos compreendam esta realidade enquanto objecto desta autoridade para que um dia possam, por sua vez, serem eles quem a exerce sobre outros, seus filhos ou não.
Rui Morgado